Chegou aquela altura no ano onde o tema da disparidade salarial volta a dar que falar. A disparidade salarial entre homens e mulheres em Portugal está nos 13,2%, o que aumentou em relação a 2023, notícias como a do Diário de Notícias (“A partir de hoje, 14 de novembro, é como se as mulheres deixassem de receber o salário”) surgem para nos relembrar desta temática e múltiplos são os justiceiros sociais a abanar as suas falaciosas bandeiras da “Discriminação”.
Ora, como dizia Maslow “Para quem apenas sabe usar um martelo, todos os problema são pregos” e esta simplória explicação como apenas mais um exemplo da discriminação patriarcal não só é intelectualmente preguiçosa como errada.
Pode parecer surpreendente para alguns, mas homens e mulheres são diferentes. Apesar dos seus diferentes traços terem uma enorme sobreposição é nos extremos que as diferenças se tornam evidentes. Se facilmente percebemos que é mais provável encontrar homens na cadeia (médias inferiores de Conscienciosidade) e mulheres no psicólogo (médias superiores de Neuroticismo) então, não será surpreendente esperar que essas diferenças se manifestem também no mundo do trabalho.
Os Homens ganham verdadeiramente mais do que as mulheres?
Vamos aos factos:
Um primeiro e óbvio detalhe a apontar é que todos estes estudos fazem uso de médias generalistas, não ajustando os dados aos tipos de emprego, horas trabalhadas, experiência, produtividade, etc. A decisão de medir este parâmetro desta forma é meramente política, as diferenças praticamente desapareceriam se estes “detalhes” fossem considerados.
Sabendo deste importante detalhe compete-nos buscar entender essas diferenças, normalizar os dados e perceber se a teoria da discriminação sobrevive a um escrutínio verdadeiro.
- Mulheres e Homens decidem trabalhar em profissões diferentes. Existem várias profissões que são maioritariamente realizadas por homens (ex. Construção 99.5%) ou por mulheres (ex. Auxiliares de Educação 95,9%). Mais importante ainda é entender que a média salarial do top 5 de profissões realizadas por homens é 1.490€ por oposição aos 1.330€ de média para o top 5 de profissões realizadas por mulheres. Só aqui encontramos 11% de diferença.
- De acordo com dados europeus de 2022, quase um terço das mulheres (28%) trabalhavam a tempo parcial contra 8% dos homens.
- Mulheres pedem mais frequentemente baixa médica. Do total das autodeclarações de doença solicitadas em Portugal com dados de 2023, 14.525 foram de mulheres e 10.244 de homens. Esta diferença permanece em todas as faixas etárias.
Então e quando fazem o mesmo trabalho? - Um estudo americano realizado por Valentin Bolotnyy e Natalia Emanuel, economistas de Harvard, sobre motoristas de autocarros e comboios que trabalham para a Massachusetts Bay Transportation Authority (MBTA), demonstram alguns dados que respondem a esta pergunta.
As mulheres representam 30% dos motoristas e, em média, ganham 0,89 cêntimos por cada dólar ganho pelos seus colegas homens. Focando-se em homens e mulheres que desempenham o mesmo trabalho para o mesmo empregador, eles concluíram que a diferença salarial pode ser explicada inteiramente pelo facto de, embora tenham as mesmas opções no local de trabalho, mulheres e homens tomarem decisões diferentes.
Os homens tinham o dobro de probabilidade de trabalhar horas extras. Também tiravam menos horas de licença não remunerada, e assim por diante. Entre os motoristas de comboio com filhos, as diferenças eram ainda maiores. Os pais queriam mais pagamento por horas extras e as mães queriam mais tempo livre.
Existem certamente mais diferenças mas vou me focar de seguida na mais importante de todas.
A explicação de uma palavra para a disparidade salarial é: FILHOS.
Entre jovens adultos, especialmente se não tiverem filhos, a diferença salarial média praticamente não existe. “Os dados apontam que os rendimentos para homens e mulheres seguem o mesmo padrão até ao nascimento do primeiro filho do casal”, diz a economista Marianne Bertrand.
É inegável que decidir ter um filho afeta desproporcionalmente as mulheres, não apenas durante o período de gravidez mas também após o parto. A trajetória de rendimentos para as mulheres que não têm filhos é semelhante à dos homens. Já quando se tornam mães a história muda. Quanto mais filhos as mulheres têm, maior a diferença de rendimentos.
“Mas isso é porque no lar, o Homem discrimina e não ajuda a mulher!”
Será?
Não. Algumas das melhores provas de que a desigualdade salarial entre géneros é, na maior parte, uma desigualdade salarial relacionada com a parentalidade vêm de estudos inovadores na Suécia e na Noruega, que comparam novas mães em relações homossexuais com aquelas em relações heterossexuais. Ylva Moberg mostra que o impacto nos rendimentos para a mãe biológica é quase idêntico em ambos os tipos de família. Por outro lado, as mães não-biológicas nos casais homossexuais mostram um padrão de rendimentos semelhante ao dos pais em casais heterossexuais. Com o tempo, a desigualdade parece equilibrar-se no casal homossexual, caso tenham mais de um filho, à medida que cada uma das mulheres do casal toma a vez de ser a mãe biológica. Para os casais heterossexuais, em contraste, a diferença aumenta com cada filho.
O facto de nos últimos anos a disparidade salarial ter vindo a diminuir é uma mera consequência de mulheres decidirem ter cada vez menos filhos e não de qualquer decréscimo em discriminação.
Convém também lembrar o “Paradoxo de Género”, também observado com mais destaque em países do norte da Europa, que demonstra que à medida que as sociedades se tornam mais igualitárias nas suas políticas sociais e políticas, homens e mulheres tornam-se mais diferentes. Isto deve-se ao facto de que quando limitamos os fatores sociais, maximizamos os fatores biológicos.
Estes dados parecem demonstrar de forma clara que a disparidade salarial não é resultado de discriminação nem no local de trabalho, nem no lar. Legislação relativa à licença parental pode ajudar a diminuir esta diferença mas os dados ainda são inconclusivos. No Luxemburgo a disparidade salarial parece ter desaparecido depois de aplicar a mesma licença a ambos, pai e mãe, mas na Noruega não.
Concluindo:
-Homens ganham mais do que mulheres?
Sim
-Quando normalizamos os dados para o tipo de trabalho e horas ainda ganham?
Não
-É uma coisa má as mulheres ganharem, em geral, menos do que os homens?
Não, porque é apenas o resultado das suas diferentes e livres decisões. Particularmente na questão parental, quando Portugal tem níveis tão baixos de natalidade. Escolher a família em vez do trabalho é algo mau?
Portanto, a não ser que estejamos dispostos a incentivar as mulheres a ter menos filhos em nome de igualdade salarial falaciosa, proponho que celebremos as nossas diferenças em vez de alimentarmos esta falsa guerra entre homens e mulheres.