segunda-feira, 16 setembro, 2024
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O Povo Unido Sempre será Vencido. Precisamos de Mais Polarização!

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É cada vez mais comum escutarmos que a nossa sociedade está polarizada e extremada. Tal é sempre enunciado como algo negativo que tem como consequências a fragmentação cultural e do processo democrático. No entanto, eu acredito que, não só a polarização é algo positivo, como essencial ao desenvolvimento saudável de qualquer cultura.

A prova mais óbvia que polarização é algo bom é que frequentemente a encontramos nos mais fundamentais símbolos da sociedade ocidental. Não existe democracia sem oposição, o debate é amplamente reconhecido como umas das melhores formas de clarificar e testar crenças/perspetivas, e a ciência e novas tecnologias florescem com o constante confronto de ideias. No entanto, hoje assistimos a fenómenos de criação de bolhas artificiais, onde somos cada vez menos expostos a opiniões contrárias ou controversas, constantemente protegidos como inocentes crianças. Programas como os de Ricardo Araújo Pereira dizem não querer “dar palco a fascistas e conspiracionistas”, perpetuando a divisão, a ignorância e a incapacidade de interagir com pessoas que detêm posições diferentes. Os grandes nomes que hoje celebramos, Copérnico, Sócrates, Darwin, eram no seu tempo os maiores difusores de polarização, mas hoje, quase que de forma poética, tendemos a celebrar os radicais do passado e os conformistas do presente.


As mais significativas mudanças positivas na história foram sempre períodos de enorme polarização.

Se voltarmos ao Séc. XIX, quando o debate sobre a abolição da escravatura se encontrava no seu auge, encontrava-se a sociedade polarizada sobre este tema? Sim, no entanto seria ousado questionar o valor e legitimidade deste confronto que resultou no fim da escravidão no mundo ocidental. Ser moderado e não polarizante neste período da história e sobre este tema seria hoje visto como bizarro e moralmente errado. O mesmo aconteceu vezes e vezes sem conta ao longo da história onde outros fenómenos generalizados de polarização resultaram a longo prazo em enormes e positivos saltos civilizacionais.

Pensar que no passado todas essas questões eram óbvias e que hoje, já descobrimos o sistema ideal e que muito mais facilmente identificamos a resposta certa é uma enorme demonstração de arrogância. É necessária humildade e reconhecer que polarização é tão necessária hoje como em qualquer outro momento na história. Basta recuar a 2020 para encontrarmos um evento planetário que o comprove, mas que apenas hoje, e devagar, começamos a reconhecer.

Polarizar é curar a indiferença e apatia generalizada que tão tristemente caracteriza a nossa atual cultura! Concordem ou não, a verdade é que desde 1975 que Portugal não se encontra tão polarizado e isso resultou na maior queda de sempre na abstenção em eleições legislativas (51,43% em 2019 para 40.16% em 2024). O exato oposto do que nos querem vender é verdade. Mais polarização salvou a democracia!


Uma narrativa comum e falta de concorrência de ideias é o sonho molhado de qualquer totalitário.

Não é uma coincidência que a arma mais comum entre qualquer ditador seja um bem montado e bem justificado aparato de censura. A liberdade de expressão é o pilar de qualquer sociedade livre e um luxo que pessoas que apenas procuram poder e controlo não podem permitir. A sua natural consequência é o debate, a partilha de ideias divergentes e a “radical” possibilidade que pessoas coloquem em causa o atual sistema. Como tal, não existe ninguém que tenha mais ódio (ou medo) e queira combater a polarização do que tiranos.

Para aqueles que, e bem, enunciem que grandes tiranos muitas vezes parecem instrumentalizar sociedades polarizadas para chegar ao poder permitam-me lembrar da “Noite das Facas Longas” na Alemanha Nazi ou da “Purgas do Partido Fascista” na Itália de Mussolini. Aqueles que podem efetivamente usar a polarização como aliada para alcançar poder são os primeiros a eliminá-la, pois ela se tornaria rapidamente a sua maior inimiga. Qualquer resultado negativo advindo de polarização tende a se auto resolver com mais polarização e não menos. A Liberdade por exemplo, como valor universal também nos permite cometer os atos mais terríveis, no entanto poucos defendem como solução a sua limitação, pois ironicamente (ou não), a solução mais eficaz está na sua maximização. O mesmo é verdade relativamente à polarização! Se observarmos as diferentes nações no presente facilmente podemos observar que muitas vezes o seu nível de liberdade é proporcional ao seu nível de polarização.

Países como Coreia do Norte, Rússia ou China apresentam baixos índices de polarização porque ela é ativamente controlada e como tal é fácil implementar “só mais uma” medida de controlo para o bem comum sem grande (ou nenhuma) oposição. É muito fácil instrumentalizar e perpetuar controlo sob a falsa virtude da coesão social. Portugal também é um país onde impera o medo da polarização, alimentado pela ignorância de um povo que, como nada sabe, em nada discorda!

A existência de pessoas independentes e livres inevitavelmente resulta no questionar de normas e regras estabelecidas e se existe algo que totalitários desprezam é que penses pela tua cabeça. Isto é tão verdade historicamente que a célebre frase “O Povo unido jamais será vencido” não só está errada como a verdade é tipicamente o seu contrário. Um Povo “Unido” sob normas, regras e tradições inquestionáveis é facilmente manipulado e como tal, “sempre será vencido”.



A polarização manifesta-se tipicamente como antivírus em momentos de falso consenso, quando se procura evitar o confronto como forma de proteger opiniões sem mérito ou que não resistiriam à mínima objeção. Não existe melhor prova disso do que a seletiva censura de certos temas na atualidade. É cada vez mais comum nos dias que correm vermos debates fervorosos sobre se devemos ou não censurar certas opiniões, mas nada se diz sobre opiniões mais óbvias ou com elevados níveis de confiabilidade. Ninguém quer silenciar terra planistas e mesmo negacionistas do Holocausto hoje são mais ridicularizados do que censurados. Ou seja, só os fracos temem a polarização, aqueles pouco confiantes nas suas ideias, com medo de serem provados errados. Como não conseguem ganhar num mercado livre de ideias recorrem ao boicote e à censura. Afinal, de que outra forma poderíamos convencer o cidadão comum de que existem mais de 2 géneros, que homens se podem tornar mulheres, que mutilar crianças baseados em pseudo-ciência é uma coisa boa? Chegamos a tal ponto, que hoje algo estar a ser amplamente censurado é uma das melhores evidências de que provavelmente está certo.

Existe o discurso bom que concorda e reforça a narrativa (não polarizante) e o discurso de ódio e extremista (polarizante) que ameaça o “bem comum”.

Eu argumentaria ainda que hoje não vivemos um verdadeiro período de polarização. Para isso, exigir-se-ia a ambas as partes a capacidade de racionalizar as suas posições, o que é extremamente raro. Uma enorme fatia populacional tem apenas as opiniões que lhes dizem para ter e qualquer pensamento contrário é frequentemente apelidado como radical. Portanto, se um dos lados não pensa e apenas repete o que lhe dizem ser correto, sensato ou moderado estamos a falar de polarização ou programação?


Ironicamente, é impossível despolarizar sem polarizar. Sim, isso mesmo. O debate honesto e não falacioso é a única forma saudável de combater o alargar dos extremos e nos aproximarmos da verdade. Para se chegar a conclusões valiosas é exigido primeiro um maximizar de polarização e combate de ideias para qualquer oportunidade de convergência poder surgir. No entanto, engane-se aquele que assume que o mais frequente é encontrar a verdade no meio (falácia do meio-termo/moderação). A história mostra-nos que depois de grandes períodos de polarização o que acontece com frequência é uma movimentação do centro para um dos lados e não um retorno à “moderação”, comprovando que o facto de uma ideia ser extremada nada diz sobre a sua validade. Conhecimento, particularmente o novo e polémico gera automaticamente polarização, e como tal, querer limitá-la é querer limitar a evolução do homem!


Para finalizar, não pretendo ignorar a crítica mais comum à polarização, que é o facto de supostamente resultar em um aumento da probabilidade de violência.

Este argumento, apesar de aparentemente válido e verdadeiro, padece de um grande erro de atribuição causal. Não será a demonização da oposição a causa da violência? Os adjetivos a que assistimos hoje com frequência durante os fracos debates (radical, racista, fascista, etc.) têm como objetivo a anulação de qualquer honesto confronto de ideias e procuram simplificar o mundo entre preto e branco (hoje em dia literalmente) e entre bons e maus. E como correlação não é causalidade, não é o facto de eu discordar de alguém que me faz ser violento, mas sim eu ter sido convencido de que aquele de quem eu discordo é um nazi ou fascista! Afinal, quem não gostaria de “dar um murro no fascista local” como advogam os ANTIFA. Um grupo de ativistas que glorifica a violência como forma de resistência e a justificam com a falaciosa lógica de dois errados fazerem um certo: “ser violento é mau, mas ser racista também portanto…”. Dizer que a violência é o resultado da polarização seria análogo a dizer que a violência doméstica é o resultado das discussões do casal e que eliminado discussões no lar a violência acaba.



Proponho então a normalização e exaltação da Polarização, onde os debates não são evitados mas sim acolhidos, onde a competição constante e a apaixonada batalha de ideias é incentivada, onde os nossos adversários não são inimigos a abater mas sim aliados indispensáveis para confirmar ou refutar as nossas ideias.

Sermos radicalmente diferentes uns dos outros é uma das maiores e mais belas características humanas e como tal, devemos fazer uma boa gestão dessas diferenças, não acabar com a polarização mas sim reconhecer que sem ela não existe verdade, aprender a pensar, a debater e a buscar soluções como adultos e não continuar a agir como crianças.



“A esperança tem duas filhas, a indignação e a coragem; a indignação ensina-nos a não aceitar as coisas como estão; a coragem, a mudá-las.” Santo Agostinho

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