quinta-feira, 19 setembro, 2024
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A Farsa do Elitismo Académico

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Vivemos hoje, em Portugal e no Ocidente em geral, uma crise preocupante de falta de espírito crítico, de raciocínio lógico e de preocupação com os factos. A grande maioria das pessoas delega as suas perspetivas e opiniões aos “especialistas”, em vez de procurarem saber a verdade por elas mesmas.

O propósito deste artigo é oferecer uma visão global das causas e dos efeitos deste problema. E terminará com uma mensagem final de esperança e encorajamento aos leitores que se sentem perdidos e frustrados no meio de todas as opiniões com que somos bombardeados nos jornais, nas redes sociais e na televisão.

Desde o ensino básico que somos urgidos a sentar-nos durante horas a fio numa sala em silêncio e incentivados a ouvir, memorizar e regurgitar o que nos é dito por uma figura de autoridade.

Claro que algum nível de disciplina é certamente melhor do que um clima de caos e agitação numa sala de aula. Mas o problema não é a promulgação da disciplina. O problema é que, logo desde o início do percurso escolar, não encorajamos os alunos a pensar com a sua própria cabeça.

O sistema de ensino recompensa em geral a capacidade de decorar informação. Há exceções, como é o caso da Matemática, onde treinamos o raciocínio lógico-dedutivo. Mas nunca aprendemos em detalhe o método científico, como se obtém conhecimento de forma fidedigna e objetiva, como se formam conceitos válidos, nem a importância da razão como a chave para conhecermos a realidade. Ensinam-nos o que pensar, ao invés de como pensar.

Sem uma base que sublinhe a importância dos factos, do método comum que permite validar o conhecimento em diversas áreas de estudo, e sem exemplos concretos que ilustrem passo-a-passo o processo de descoberta da verdade, torna-se muito difícil escaparmos ao misticismo, subjetivismo e relativismo que se alastram pelo meio académico.

Nem todas as perspetivas e opiniões são dignas de consideração e respeito. A realidade não é subjetiva.

Se duas pessoas (no mínimo) dão uma resposta diferente a perguntas como “Que sistema económico é responsável pela maior criação de riqueza e prosperidade?”, “Quantos géneros existem?” ou “As alterações climáticas vão levar à extinção do Homem em breve?”, isso não significa que todas as respostas são válidas e que se encontram em pé de igualdade. Pelo contrário. Se respostas incompatíveis fossem verdadeiras ao mesmo tempo, entraríamos em contradição, e não existem contradições na realidade. Logo, se diferentes pessoas oferecem respostas mutuamente exclusivas, então pelo menos uma delas terá de estar necessariamente errada.

Descontando possíveis erros honestos e lapsos de raciocínio, é o método pelo qual estudamos a realidade que determina se o nosso conhecimento é válido e objetivo ou não. O Homem é falível, vulnerável a erro, viés e engano. Precisamos de linhas orientadoras concretas para evitar esses obstáculos e chegar à verdade. Mas antes de qualquer discussão sobre qual método é o mais (ou o único) adequado, temos de querer de facto saber a verdade.

Tal como o Thomas Sowell disse, podemos escolher ignorar a realidade, mas não podemos ignorar as consequências de ignorar a realidade.

Parece que as pessoas já não sabem (ou pior, não querem) distinguir entre factos e opiniões. Confundem sentimentos e emoções com argumentos válidos, como se o mero facto de se sentirem indignadas e ofendidas, ou o facto de haver um “consenso” maioritário, validassem as suas perspetivas e lhes desse razão. Em grande parte, esta ideia absurda de que existe uma verdade para alguns e outra para outros, ou a ideia de que os factos são determinados por um processo democrático ou decididos por uma autoridade, é preocupantemente ubíqua nas Universidades.

A contaminação dos estabelecimentos de Ensino por este relativismo epistemológico começou nas Ciências Sociais, como a Sociologia, a Economia e a Psicologia. O que não é propriamente de admirar, pois nestas áreas de estudo não é possível obtermos o mesmo nível de rigor nem aplicarmos o método experimental minucioso que temos nas Ciências Naturais como a Biologia, a Química ou a Física.

Isto não significa que não é possível obter qualquer conhecimento válido ou até certezas no domínio das Ciências Sociais. Mas significa que as conclusões obtidas e os estudos realizados são comparativamente mais vulneráveis ao viés ideológico e a interpretações falaciosas.

Além disso, não podemos deixar de reparar num pormenor importante.

Quando um médico erra no diagnóstico, quando um investigador laboratorial não usa grupos de controlo adequados numa experiência, ou quando um engenheiro se engana nos cálculos ao planear a estrutura de uma ponte, as consequências dos erros cometidos são evidentes e relativamente imediatas, muitas vezes até catastróficas, e a responsabilização dos profissionais é óbvia e inevitável.

Por outro lado, quando um Economista se engana nas suas previsões sobre a taxa de desemprego, ou quando um Psicólogo propõe uma teoria que alega explicar o comportamento humano num certo contexto, o escrutínio é muito mais difícil e demorado, e os erros são mais facilmente ignorados e tolerados. Por isso, os cientistas sociais e equivalentes não só têm menos meios, mas também menos incentivos para serem rigorosos e objetivos, quando comparados com os cientistas naturais e os seus derivados.

Contudo, não foram apenas os estabelecimentos de Ciências Sociais que sucumbiram a ideologias falaciosas e supersticiosas. O relativismo, o subjetivismo e o dogma também já se infiltraram nos currículos e movimentos estudantis dos estabelecimentos de Ciências Naturais. A maioria do que é oficialmente ensinado tem validade científica, claro. Mas, de maneira lenta e subtil, encontramos algumas doses de propaganda injetadas no meio do conhecimento transmitido. E uma gota de veneno largada num copo de água limpa já é suficiente para justificar algum grau de desconfiança.

Se o objetivo é uma lavagem cerebral em massa e uma deturpação da Ciência, as ideologias nefastas e subversivas não podem ser impostas de maneira abrupta e óbvia. Têm de começar por estar escondidas ou misturadas com conhecimento fidedigno que lhes confira algum grau de credibilidade. Uma rã que é largada numa panela com água a ferver irá saltar assim que tocar na água e escapar. Mas uma rã que é largada em água morna que é lentamente aquecida, acaba por não se aperceber do perigo até já ser tarde demais.

A triste verdade é que estudantes modernos nunca aprenderam nem tiveram curiosidade de aprender sobre as bases da Metafísica (o que é a realidade) e da Epistemologia (como adquirimos conhecimento).

Além disso, muitos jovens no mundo atual padecem de uma tendência para dar mais valor a obter aprovação social do que a chegar à verdade. Estão demasiado preocupados com não ferir sentimentos alheios para pararem e reverem as suas próprias opiniões.

Antes de aceitarem uma perspetiva ou asserção como verdadeira, passam-na por um filtro de consenso de maneira a evitar possíveis conflitos com as perspetivas adotadas pela maioria dos seus pares.

Talvez este fenómeno afete mais facilmente os jovens devido a estarem numa etapa das suas vidas em que se importam mais com a sua aceitação social e têm maior medo de serem excluídos, mas esse já é um tema fora do âmbito deste artigo.

Atrevo-me a dizer que a grande maioria deles nunca foi exposta a perspetivas diferentes, nem tem qualquer interesse em investigar essas perspetivas.

Uma lavagem cerebral que começa na infância e que é constantemente reforçada no decorrer do crescimento e aprendizagem é algo muito difícil de reverter. E os jovens doutrinados de hoje são os profissionais especializados doutrinados e doutrinadores de amanhã.

Não admira que esteja em vigor um clima de irracionalidade, obediência cega e cobardia intelectual. As pessoas são aplaudidas e elogiadas por papaguearem slogans e cometerem falácias de apelo ao consenso e à autoridade. Neste ambiente politicamente correto, qualquer dissidência é silenciada, omitida, insultada e, se não prejudicar imediatamente o sucesso académico e profissional dos alunos e professores que contestam o status quo, é quase garantido que conduzirá à sua ostracização e à destruição da sua reputação.

Não estou a dizer que não se aprende nada nas Universidades, nem a negar que um especialista sabe globalmente mais sobre a sua área de estudo do que um leigo. O que quero dizer é que ser um especialista não é condição suficiente nem necessária para se saber algo sobre um determinado tópico, e que os factos e o raciocínio lógico vencem sempre currículos no que toca a validar conhecimento.

Num mundo ideal, poderíamos confiar sem suspeita nas declarações daqueles que se especializaram numa dada área de estudos. Mas o que se sucede atualmente é que quem está interessado em saber mais sobre um determinado tópico, especialmente se for um assunto controverso, terá de procurar a informação fora dos círculos académicos. O cidadão informado e verdadeiramente educado terá de ser hoje um autodidata.

No clima de superstição e misticismo em que vivemos, procurar e defender a verdade é não só um ato de coragem, como também de iniciativa pessoal.

Termino este artigo com uma mensagem para aqueles que estão interessados em descobrir a verdade e em ganhar coragem para a defender.

Não se deixem iludir ou intimidar por currículos. Uma verdade defendida eloquentemente com factos e lógica oblitera um castelo de cartas construído no ar com desinformação e falácias. Hoje temos acesso a uma quantidade praticamente infinita de autores, fontes de informação e plataformas online. Quem quiser saber mais, só tem de o querer.

Atrevam-se a saber mais. Atrevam-se a pensar com a vossa própria cabeça. Atrevam-se a questionar o que escutam e leem no dia-a-dia. Atrevam-se a desmontar as falácias daqueles que se refugiam por detrás dos seus diplomas por não terem factos nem argumentos a que recorrer.

Não se sintam desmotivados por não terem um currículo académico prestigiado. Como disse o Javier Milei, se imprimir dinheiro criasse riqueza, imprimir diplomas criaria inteligência.

E para terminar, não se esqueçam: A ignorância é a arma deles, a Sapiência é a nossa!

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