I
50 anos se passaram, 50 anos se desperdiçaram.
Os avanços que tivemos, certamente existentes, não compensam aquilo que nos foi tirado. Tiraram-nos a soberania monetária, obrigando-nos a ser subservientes às vontades de Bruxelas e sua usura, além de limitar por completo o nosso potencial. Não é por acaso que ainda não tivemos uma inauguração infraestrutural historicamente marcante desde a mudança para o Euro.
Para além da soberania monetária, mataram a nossa soberania financeira. Conseguiram o impossível. Em 40 anos tivemos três bancarrotas que ainda hoje se fazem sentir nas nossas carteiras e mentalidades e queimaram uma boa parte das nossas reservas de ouro. Ninguém foi devidamente responsabilizado por tal gestão.
Pior só mesmo o potencial que foi fracassado. 50 anos depois de abril, temos um país economicamente estagnado com uma casta política dependente da mentira e do fabrico de consentimentos para se manter no poder. Por exemplo, recentemente venderam-nos números económicos em cenários pós pandémicos sem que fosse contada a história completa do nosso enfraquecimento e dependência do setor terciário, além de não terem a capacidade de reconhecer que não saímos por completo da austeridade com as famosas cativações. Certamente não preciso de referir as estrondosas cargas fiscais e subida de impostos indiretos por parte do PS e respetivos aliados da geringonça.
Curiosamente, a maçã podre que a TIMES utilizou para ilustrar Salazar há 77 anos foi adequada a um período onde publicamente se procurava justificar o esforço nacional com o intuito de limpar os erros da primeira república. Hoje, temos uma terceira república que camufla a sua estagnação de décadas e subsídio dependência de Bruxelas com o apelo ao falso progresso.
Ora, um povo refém da nostalgia é um povo raptado por um progresso artificial. Os anos de otimismo e expectativa por um futuro brilhante já lá vão. Não estamos nos anos 80 ou 90. O sonho materializou-se numa derrota histórica e geracional para Portugal.
O próprio sistema de abril é incapaz de fazer um apelo ao esforço nacional e reconhecer essa derrota. Cultivou uma sociedade atomizada e sem consciência patriótica. Abriu as portas da diluição da identidade nacional (modas, debates, produtos, culturas) enquanto nada fez para impedir a saída dos portugueses que constituiriam o seu futuro.
Querem um exemplo? Ainda ontem saiu uma notícia que dizia: “Portugueses podem ver pensões baixar para 38% dentro de 26 anos”1. Na prática, o sistema político português diz-vos para emigrar ou viver uma vida de escravo na vossa própria terra.
II
– Somos um país que a cada ano que passa desperdiça oportunidades para crescer.
– Somos um país que a cada ano que passa se aproxima de um abismo.
– Somos um país que a cada ano que passa é menos português.
Não é apenas um abismo de natureza financeira, na medida em que temos um sistema social insustentável ou que o leitor não vai ter uma pensão. É um abismo de inexistência, como se Portugal nunca tivesse existido ou não tivesse uma história tátil.
É a crua morte do nosso passado e futuro, sendo que pelo meio temos um presente. Estamos objetivamente nesse presente. Todas as instituições naturais caem diante dos nossos olhos, de forma silenciosa e discreta. Infelizmente só alguns têm a capacidade de se aperceber de tal coisa.
Resta-nos saber se os despertos terão a força e vontade para se apresentar como a última linha de combate por este país, numa nova Aljubarrota ou quiçá S. Mamede, dada a necessidade de refundar um novo regime, sistema, elite política e Estado, numa nova primeira tarde portuguesa.
III
Em jeito de uma curta conclusão, não gozarei com a geração dos nossos avós por ter permitido a traição de abril, ou com a dos nossos pais por nada ter feito em resposta.
Se a maioria da minha geração é sistematicamente enganada por um sistema aparentemente omnipotente de desinformação interesseira, a deles também o foi.
Referências