O politicamente correto tem emergido como tema central em alguns debates contemporâneos, e tem suscitado intensas discussões na sociedade atual. Alegadamente, esta proposta visa fomentar um ambiente marcado pelo respeito e pela inclusão, evitando o uso de linguagem considerada ofensiva. Contudo, na prática, essa abordagem pode transformar-se numa ferramenta de censura, constrangimento e de limitação da liberdade de expressão.
Quando me falam de inclusão, os alarmes começam a ecoar na minha cabeça, sabendo que a palavra exclusão nunca esteve presente nos valores que me foram transmitidos, nem nas relações humanas ao longo da minha vida. Nunca vi ninguém ser excluído em Portugal por qualquer atributo físico, ou outro, não obstante existirem situações pontuais de intolerância e de exclusão, pelo que me faz querer que o “politicamente correto” tem um lado bastante perverso. Sinto que o papel desta expressão tem como finalidade o controlo político e social, estabelecendo parâmetros sobre o que é aceitável ou não dizer e impondo penalidades àqueles que discordam. Ao impor padrões rígidos de linguagem, a sociedade acaba por ser restringida na liberdade de expressão, elemento essencial para o funcionamento de uma democracia robusta.
Gostaria de fazer uma analogia provocativa substituindo a expressão “politicamente correto” por “religiosamente correto”. Imaginemos um cenário em que a expressão religiosa predominante seja a muçulmana, e que qualquer desvio dessa norma resulte em punições. Se alguém, sendo cristão, não aderir às diretrizes impostas, enfrentaria consequências. Essa analogia ressalta a possível coerção e falta de liberdade inerentes ao politicamente correto.
Outro ponto que me parece fazer sentido destacar é o facto de que o uso deste instrumento é feito por pessoas que compartilham uma afinidade com ideias mais virados à esquerda, procurando controlar a narrativa e moldar a linguagem conforme uma agenda específica, sabendo de antemão que defender uma ideia sem estar bem sustentada, e ganhar a batalha no campo da argumentação é muito difícil. Esta é uma ferramenta viral e parasitária, no sentido de que é de fácil disseminação e que rouba o sentido crítico dos opositores, condicionados pela covarde colagem de adjetivos moralmente repreensíveis; exemplos disso são, quando alguém fala de imigração excessiva, é rotulado de xenófobo, quando se fala que não deve haver quotas raciais, é conotado de racista, e por aí em diante.
Quando afirmo que o “politicamente correto” é para covardes, também me refiro a todos os que não têm coragem de assumir posições difíceis e que se colocam em cima do muro. Vejo a sociedade ocidental mergulhada numa crise existencial dominada por homens fracos que se sujeitam e se rendem a narrativas que os condicionam. Assumir posições difíceis sobre determinados assuntos é uma manifestação de coragem intelectual, uma vez que permite a expressão franca de ideias, mesmo que essas ideias possam ser consideradas controversas. Tal como diz Jordan Peterson, para pensarmos temos de correr o risco de sermos ofensivos.
Também me parece pertinente invocar o sentimento de hipocrisia que existe no politicamente correto. A constatação de que não importa o conteúdo do discurso, mas sim quem fala, destaca a possibilidade de manipulação da percepção pública com base no que o interlocutor defende. Isso suscita questões sobre a autenticidade das motivações subjacentes ao politicamente correto, reforçando a ideia de “acusa-os daquilo que tu és”. Em muitos casos, aqueles que apontam com veemência práticas politicamente incorretas podem, eles próprios, estar envolvidos em comportamentos semelhantes, lançando dúvidas sobre a genuinidade das suas intenções e revelando uma estratégia de desvio de atenção das suas próprias contradições.
Tal como mencionei no início deste artigo, o significado intrínseco da expressão parece assentar numa premissa moral de coesão social, algo virtuosa, mas que me faz lembrar um produto com uma caixa muito apelativa na vitrine de uma loja, feito para despertar o desejo pela compra, mas que o conteúdo decepciona; fico com o sentimento que grande parte das pessoas nunca abriram a caixa.
Replico uma frase dita pelo professor Luiz Filipe Pondé que afirma o seguinte: “Eu acho que o politicamente correto como norma de coesão social, ele repete o conhecimento básico de que a substância essencial da moral pública é a hipocrisia”. A crítica parece concentrar-se na percepção de que o politicamente correto pode ser visto como uma forma superficial de comportamento social aceitável, mas que, na realidade, não reflete necessariamente a verdadeira moralidade das pessoas, e que a ênfase no politicamente correto pode levar a que uma sociedade valoriza mais a aparência do que a autenticidade moral.
Por último, parece-me que a incessante busca por uma linguagem que não cause ofensas pode resultar na simplificação excessiva e na conformidade forçada do pensamento. A complexidade das ideias pode ser perdida à medida que as pessoas se esforçam para expressar pensamentos desafiadores de maneira demasiado cuidada para não ferir susceptibilidades.