quinta-feira, 19 setembro, 2024
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A Superficialidade Moderna

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Qualquer um de nós aprecia os facilitismos que temos nos dias de hoje. Todos nós gostamos de encomendar algo na amazon, pedir comida para casa na uber eats ou ter acesso a tantos outros facilitismos que nos são oferecidos nos dias de hoje e que damos como garantidos. Pode isso ser um incentivo ao desprezo da espiritualidade, ao desprezo do sentido de sacrifício ou o embaciamento de visões de longo prazo? Eu acredito que sim e acredito também que já temos provas práticas disso mesmo.

A superficialidade nas relações humanas é festejada nos dias de hoje. Contracultura é aquele que se dedica a uma relação de uma vida. Radical é aquele que se prefere resguardar intimamente para a pessoa que considerar adequada. E fundamentalista é  aquele que prefere viver desapegado do que tem preço. 

E como festejamos a superficialidade? Relações sexuais sem compromisso, desprezo pelo outro (a não ser que possamos gravar um ato de caridade e postar nas redes sociais), o distanciamento social que começámos a criar muito antes do covid e o artificializar das relações afetivas. Os diálogos perdem a profundidade (essa profundidade depende de forma direta do número de caracteres que cada post autoriza) e as discussões de ideias transformaram-se em trocas de acusações. Estamos mais próximos e ao mesmo tempo mais distantes. Estamos próximos 24 horas por dia nas redes sociais, mas distantes porque devido a essa proximidade digital optámos pelo tal distanciamento social. O sentido crítico diminui (visto que se não discutimos ideias também não temos oposição ao que pensamos) e tornamo-nos alvos fáceis de tiranos. Tudo isto nos fragiliza. Fisicamente, intelectualmente e acima de tudo espiritualmente. E com esse enfraquecimento tornamo-nos pessoas sem noções de propósito, sem apreço pelo planeamento e alienados do que é realmente importante. Quero também relembrar que isto não é de todo uma crítica aos recursos que temos disponíveis e sim à utilização que lhes damos.

E o que podemos fazer sobre isto em concreto? Gosto de tentar oferecer uma solução ao que critico mesmo que o problema possa não ter resolução aparente. É uma forma de estar que nos está muito entranhada. Mas eu sugeriria atos pequenos e consistentes. As soluções nem sempre precisam de ser imensamente profundas e complexas, e creio que neste caso o que é simples pode ser a solução. O meu apelo é simples, o apelo é à virtude. O meu apelo é aos valores. Ao auto sacrifício, à visão de futuro e à descoberta espiritual. Ao entendimento do que nos rodeia e ao almejar da perfeição. Aponte-se para bem alto. Que a mediocridade deixe de ser o modo comum de existência. Que o que se faça seja bem feito. Que o apreço e amor pelo outro sejam incentivados. Que as conversas longas de telemóveis desligados sejam trazidas de volta. Que os jantares em família sejam o normal novamente. Que a família seja novamente incentivada. Que as boas ações não dependam da presença de uma câmara. Que haja moralidade mesmo quando ninguém está  a ver. Que as chamadas sejam novamente substituídas pelos “cafezinhos”. Que o trabalho tenha uma hora de saída tão rígida como a hora de entrar. Que se tenha uma visão de futuro que não esqueça o passado e o presente. E personalizando a famosa frase de Jim Brown, que se viva mantendo presente que vamos morrer e que se morra sabendo que vivemos verdadeiramente.

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