
Apesar da nossa antiga aliança de amizade com o Reino Unido e do território ter sido quem mais recebeu imigrantes Portugueses no ano passado (cerca de 12 mil), pouco ou nada nos chega de noticias sobre o que se passa naquele país. Por acreditar que esse tipo de informação não deve ser omisso, e pode ser bastante útil para compreender o presente e futuro do nosso próprio país, gostaria de vos fazer um resumo:
Os Conservadores no Reino Unido, são invictos há 14 anos. Sabemos que o Reino Unido nunca esteve na União Europeia de alma e coração, e o seu cepticismo com esta União já vinha dos tempos de Margareth Thatcher. Mesmo ao entrar na União Europeia, os Ingleses sempre recusaram a moeda única mantendo sempre a Libra Esterlina.
O seu descontentamento com o Estado da União Europeia começou a ser audível após a eleição de Nigel Farage para o Parlamento Europeu. Farage, que tinha estado na juventude do Partido Conservador decidiu retirar-se em 1992 no momento da assinatura do Tratado de Maastricht por acreditar que isso iria colocar em causa a soberania Britânica. Mais tarde acabaria por ser eleito pela plataforma Euroceptica que formou (UKIP) para o parlamento Europeu com o o objectivo de retirar o Reino Unido da União Europeia.
O Reino Unido sai da União Europeia com condições extremamente penalizadoras apesar de ter afirmado sempre que o objectivo era continuar a colaborar com a EU sendo uma nação independente. Infelizmente, a EU tratou o Reino Unido como um inimigo e porque não num exemplo negativo para todas as nações que pudessem ter reinvidicações e desejos semelhantes?
Foram reintroduzidas barreiras comerciais, afectando importações e exportações, para além da obrigatoriedade do pagamento de 39 bilhões de libras.
Costumo dizer que o erro do Reino Unido não foi ter saído, foi ter entrado, embora seja uma posição comum ao verificar as condições económicas desfavoráveis que hoje enfrentam, haver muitos britânicos que desejariam abdicar da liberdade, para não terem de enfrentar a penalização. Não atribuem as suas dificuldades ao castigo que a EU lhes deu, ou à fraca gestão dos Tories, mas sim à sua não permanência na EU.
O Brexit só não trouxe ao Reino Unido os resultados desejados porque os Conservadores não o cumpriram. Momento em que o senhor Farage sai da cena política. Cabia ao governo nacional governar bem.
Os Conservadores, que viram o seu PM eleito cair após ter realizado festas no período do covid não se submeteram a eleições, passaram a pasta a Liz Truss. Liz Truss não soube lidar com o que encontrou e queria um choque fiscal, foram 50 dias no cargo.
Para finalizar o descalabro, elegem internamente Rishi Sunak, o segundo PM sem validação nas urnas. Sunak consegue uma excepção económica para a Irlanda do Norte não sair tão penalizada nas relações com a EU e isso foi também muito contestado pelo país que queria um esforço de negociação extendido ao resto do país.
O controlo das fronteiras também não se revelou efectivo e continuam a entrar barcos de emigrantes no país. Novamente, ao ver restituída a sua soberania o Reino Unido não a soube gerir.
Os britânicos sentem-se desesperados e não há efectivamente uma possibilidade de mudança radical, já que o sistema eleitoral é profundamente rígido e impõe praticamente a alternância entre as duas maiores forças políticas, de onde se pode depreender que os actuais 45% de intenções de voto no partido trabalhista é fruto não do desejo de políticas socialistas, mas sim de alternância política.
Neste contexto, ressurge Farage. Farage, que não tinha tempo nem condições para reentrar como líder do partido que ajudou a formar, ressurge a convite do actual líder para o substituir.
Apesar de estar fora da política activa há vários anos, Farage tem se mantido uma figura bastante popular entre conservadores e soberanistas que não encontram uma solução viável nas possibilidades oferecidas. A sua posição critica aos dois grandes partidos que alternam no poder, nas redes sociais que gere de forma muitíssimo eficiente, valeram-lhe muitos comentários e pedidos de jovens para que voltasse e ajudasse o país.
No seu discurso de regresso à liderança, afirmou que estas eleições eram uma causa perdida, e estavam entregues aos Trabalhistas, mas que queria ser deputado e ser real oposição. Mencionou que sentia uma mudança por toda a europa bem como uma rejeição política dos jovens aos políticos tradicionais.
Farage percebeu que existia no Reino Unido, como existe em toda a Europa neste momento, mercado para as suas ideias e avançou.
De momento, e em apenas 4 dias na liderança do Reform UK, as sondagens já lhes apontam 4 deputados em 650 (1 deputado por um distrito eleitoral), não é uma coisa pequena já que para elegerem um deputado têm de ultrapassar Conservadores e Trabalhistas e ganhar nesses distritos.
Até 4 de Julho, dia das eleições, ainda vamos ter muita história para ver.
Cláudia Nunes – Presidente da LOLA Portugal